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Como morar bem em outro país. Item que não deve ser levado: suas convicções.

por Fabiano de Llano

conviccoesdestaque

Eles são exatamente o tipo de pessoas que odiamos: jovens, pobres, na maioria negros, que andam em grupos, sem camisa, suados, com cabelos tingidos, falando alto, se pendurando nas barras de segurança do transporte público, tomando o espaço daqueles que estão ali indo fazer algo de útil: trabalhar.

Calma, não me xingue ou condene sem antes terminar de ler o texto. Você verá que, em algum momento da sua vida, você já foi (e talvez ainda seja) a pessoa do pensamento acima.

Atenção: o texto foi atualizado com adição de conteúdo. No final dele você poderá conferir  o que foi adicionado.

Incrível como tem dias em que as coisas parecem simplesmente se encaixar. Sabe quando você acorda e conversa com um conhecido sobre o inverno passado. Dai sai de casa, um vento frio sopra, você lembra que saiu sem casaco. Chegando no trabalho o ar condicionado está em nível polar. Ao voltar você ainda pega uma chuva. Chega em casa todo molhado e fala para aquele conhecido da manhã “nossa, o dia hoje conspirou para me fazer lembrar do frio que foi o inverno passado”?

Então, o meu dia hoje foi mais ou menos isso. Quem me acompanha nas redes sociais viu que compartilhei um post no Facebook sobre a Prefeitura de Uberlândia, uma cidade brasileira que fica no Estado de Minas Gerais, mesmo Estado que nasceu minha esposa.

Sensacional o manual do busão da Prefeitura de Uberlândia 😀

Posted by Fabiano de Llano on Quarta, 30 de setembro de 2015

Postei que achei sensacional o manual da prefeitura ensinando o que pode e o que não pode no transporte público.

Sinceramente, não julguei o material. Simplesmente achei sensacional o trabalho da área de comunicação da prefeitura.

Normalmente o meios de comunicação dos órgãos governamentais são sisudos, não dão brecha para o bom humor, mas a postagem da Prefeitura de Uberlândia foi diferente, entrou no espirito que vive nas redes sociais: o da alegria e informalidade.

E de forma muito bem humorada (fiquei rindo sozinho e a Antônia me olhando tentando entender por uns bons minutos) passa uma mensagem bem clara sobre o uso “coletivo” dos ônibus (autocarros).

Agora de tarde, me atualizando de alguns materiais, entrei no site Update or Die e vi a postagem de autoria de Gustavo Giglio, intitulada “A generation in movement (NY)” e ilustrada com a foto de um jovem negro se pendurando nas barras de um metrô (clique aqui para ler o texto completo). O que me roubou a leitura foi o texto da chamada:

“No brasil as pessoas estão mais preocupada em quanto vão ganhar do que o que vão realizar e deixar pro mundo. Muito difícil de fazer as coisas por aqui, se você abrir uma câmera que nem eu abri no metrô de SP te param no ato pedindo “autorização”($$$) e isso é uma pena, SP tem muita história pra contar”.

A postagem fala sobre o curta “Litefeet – A generation in Movement”, de autoria do brasileiro Rafael Kent.

Não sei o que é mais sensacional, se o conteúdo do vídeo ou se a história de como ele foi feito. Enfim, sugiro (depois de terminar esse texto, é claro, eheheh) que assista o curta e depois leia o texto no link que indiquei mais acima.

 

Litefeet – A generation in Movement from Rafael Kent on Vimeo.

Voltando agora para o meu texto. Depois que compartilhei a postagem da Prefeitura de Uberlândia, recebi algumas mensagens de conhecidos no Brasil falando “tu vê Fabiano, o absurdo que está o país, até manual de como se comportar no ônibus é preciso fazer para esse povo ignorante”, “Fabiano, isso é por causa do bondes, formado por maloqueiros, que invadem o nosso espaço, fazem o que querem e nós, pessoas de bem, ficamos reféns destes vagabundos”, “bem que tu fez em ir para a Europa, aqui nem andar de ônibus é possível mais”, entre outras mensagens e comentários nada simpáticos de serem publicados.

A pergunta que me faço é: qual a diferença dos bondes brasileiros para os grupos de LiteFeet de Nova Iorque?

Veja bem, não vá cair na pegadinha da minha pergunta. Tem uma armadilha nela. Fica a dica!

Ambos são formados por jovens, pobres, na maioria negros, andando em grupos, sem camisa, suados, com cabelos tingidos, falando alto, se pendurando nas barras de segurança do transporte público, tomando o espaço daqueles que estão ali indo fazer algo de útil: trabalhar.

Se você começou a sua resposta com “os grupos de LiteFeet…” ou “os bondes…” parabéns, você caiu na pegadinha da minha pergunta e praticamente se encaixa no pensamento que descrevi no início do texto (não em 100%, mas cuidado, está no caminho).

Não existe diferença. Essa é a questão.

Os dois grupos são formados pelas mesmas pessoas, com vivências parecidas, com sonhos semelhantes e vivem presos na mesma intolerância social daqueles que acreditam que podem estabelecer o que é um comportamento adequado.

Em Nova Iorque a dança no metrô é proibida e estes jovens seguidamente são presos. No Brasil, os mesmos jovens são barrados na entrada de shoppings ou tirados a força dos ônibus por policiais ou civis.

Esse texto não é mais um ensaio sobre o comum, um manifesto em defesa dos oprimidos, uma tentativa de me redimir de algum pecado, nem nada. É apenas a reflexão de uma pessoa que mora fora do seu país de origem e está aprendendo a viver num mundo cheio de culturas diferentes e, aos mesmo tempo, tão iguais.

Tudo seria tão mais fácil se todos abrissem mãos de suas convicções e aceitassem essa transição de espaços (o coletivo é coletivo, do contrário não teria esse nome).

Se você é daqueles que fica se perguntando o que é arte, aceitar as diferenças é o primeiro parágrafo da sua resposta.

Parabéns ao Rafael Kent e equipe, pelo excelente trabalho de filmagem, e ao Gustavo Giglio, do Update or Die, por minerar esse tipo de material que muitas vezes fica perdido nos nichos da internet.

Ah, o que isso tem a ver com o Somos Três? Simples, se você que quer conhecer o mundo, comece primeiramente olhando para os lados. As pessoas que moram fora das fronteiras do Brasil são exatamente iguais as que moram dentro. Não saia do país achando que encontrará o paraíso. Não encontrará ele e muito menos encontrará o inferno. Passado os primeiros dias de euforia por morar fora, o que você encontrará serão os seus pensamentos. Se não estiver disposto a mudá-los, a experiência será apenas decepção.

 

Atualização do conteúdo – Fiz essa atualização depois de receber alguns comentários. Destaco aqui dois deles, sem identificar os seus autores. Acredito que o texto inicial não tenha ficado muito claro, por isso esse complemento. Destaco que nada do texto original foi alterado. A única diferença está na adição do conteúdo abaixo. Obrigado por acompanhar.

Captura de ecrã 2015-10-1, às 11.25.14 Captura de ecrã 2015-10-1, às 11.26.20

Então, o texto se refere, talvez não de maneira clara, a origem dos grupos, brasileiros ou norte americanos. Mas acima de tudo, a postura dos que não fazem parte destes grupos, ou seja, nós como sociedade. Se pegarmos o Brasil de hoje, estamos, em níveis de violência, iguais (para não dizer superior) aos níveis dos EUA de 30 anos atrás.
Os bairros eram disputados por gangues, o polícia era corrupta, a população se organizando em grupos de justiceiros, etc.
Qual foi a saída adotada pelos norte americanos ou outros países do eixo dito “desenvolvidos” (América do Norte, Europa e sudeste asiático)?
Eles reformularam os meios judiciais, criaram leis mais rígidas (além de planejados e efetivos órgãos de fiscalização institucional) mas, acima de tudo, eles não excluíram os grupos de jovens (infratores ou não). Ao contrário, eles adotaram a política do “nem todos que estão ali são criminosos”. Eles criaram meios de introduzir esse pessoal em políticas de educação e arte, dando espaço para eles expressarem o que sabem fazer, não o que queremos que façam.

Entende o que me refiro?

– 1) existem os grupos (incluindo os bondes)
– 2) existem as consequências das ações dos grupos
– 3) existe a postura da sociedade (civil e institucional) em relação aos dois primeiros

O primeiro item, que é o abordado no texto, é o mesmo grupo no Brasil ou Estados Unidos. São jovens, com energia, com metas, desejos, sonhos, índole (boa ou má), em busca de espaço para exercerem o que sabem fazer.

O segundo item, que dai sim começam as diferenças, mas não são diferenças causadas pela origem e sim pelas oportunidades proporcionadas, onde um faz, nada acontece, e os demais seguem o exemplo (lembre-se, estamos falando de jovens, quem quando mais novo não fez algum tipo de besteira influenciado por um amigo mais inconsequente? Não falo de crime, mas desde berrar no meio da rua de madrugada, brincar com fogos de artifício, apertar uma campainha e sair correndo, até mesmo tomar um porre).

E o terceiro item, que é o que deve ditar os limites do espaço, mas que não sabe como ditar ou mostrar estes limites e qual o espaço a ser ocupado. Ou seja, nós e instituições.

Há 30 anos a sociedade via o ato de pichar paredes como algo absurdo (ainda é). A dança de rua era algo obsceno, sujo, vulgar. As músicas de protesto, sem sentido, falando de objetos, sexismo, violência, era visto como algo popular a ser evitado.

O que foi que mudou em 30 anos nos EUA e no Brasil?

Um país abriu espaços de arte em comunidades e bairros mais pobres, levou exposições para museus locais, levou os jovens destes locais para conhecer expressões de outras regiões, até estimulou o convívio entra elas. Filtrou os “bandidos” daqueles que simplesmente são hiperativos e sem formação. O resultado foi o aperfeiçoamento do grafismo, que se tornou um ramo milionário da industria de arte, os locais mais pobres hoje são os mais valorizados (é só ver o ramo imobiliário de Nova Iorque para ver a transformação que as regiões de periferia tiveram), a indústria de música e moda hoje em dia é ditada pela influência de artistas, cantores e dançarinos nascidos ou criados nestas “comunidades”. E os índices de criminalidade caíram com a filtragem dos que de fato são bandidos, daqueles que simplesmente estão querendo “curtir”.
Já o outro país, no momento, quer proibir jovens mal vestidos e que só tem o dinheiro da passagem de irem a locais mais “privilegiados” de algumas cidades. Não abre espaços locais de incentivo a arte, ao contrário, cada vez mais adotam leis contra “poluição visual”, o que é uma pena, se pensarmos que os maiores artistas de renome mundial na área do grafismo são Os Gêmeos, uma dupla de irmãos brasileiros da periferia de São Paulo. Fica discutindo políticas de cercamento em parques e outros locais de convívio. O ramo imobiliário fica apenas no investimento de condomínios fechados. A revitalização de bairros antigos e pobres ficam barrados por leis de preservação de patrimônio histórico que priorizam a preservação como algo a ser deteriorado (abandonado), não algo a ser revigorado (explorado comercialmente).

Enfim, como dito no texto, a pessoa que pretende sair do país tem que estar disposta a enfrentar, acima de tudo, as convicções dela.
Ela não vai encontrar lá fora nada de diferente do que já encontra no Brasil. A diferença não está nos grupos, mas sim na sociedade que rodeia os grupos.
O brasileiro vai para Nova Iorque querendo filmar a expressão dos pobres de lá. Os norte americanos vão para o Brasil querendo filmar a expressão dos pobres brasileiros. Tanto brasileiros e norte americanos repudiam seus pobres. A diferença está que um dá espaço para os pobres existirem, enquanto o outro insiste que a maioria dos pobres são bandidos.

Ah, vale lembrar que o vídeo é um vídeo. O que vemos é o resultado de uma edição que atende ao olhar do seu criador, ou seja, as mesmas cenas, se utilizadas por outro editor, transformarão os dançarinos artísticos em pessoas que ocupam os espaços e atrapalham a vida dos trabalhadores. O material tem que ser visto em sua neutralidade. As cenas dos cumprimentos, por exemplo, em sua maioria, tem primeiro o olhar de desconfiança dos passageiros, passando pela insistência do cumprimento pelo dançarino, e mais tarde, depois que o dançarino sorri e balança a cabeça sinalizando que está tudo ok, é que a pessoa cumprimenta de volta. Ou seja, não é algo tão expontâneo. É o mesmo tipo de situação que qualquer brasileiro passa quando se depara com qualquer jovem mais inconsequente querendo se aparecer para os amigos dentro do ônibus.

Quanto ao dinheiro, uma coisa que não pode ser esquecida é que Nova Iorque é uma cidade turística. Inclusive em boa parte do vídeo o que aparece são turistas interagindo com os dançarinos. Então é complicado afirmar que a população local aceite esses grupos (se fossem, a polícia não os prenderia). É que nem aqui em Coimbra, se julgar pelo dinheiro que os estudantes ganham se apresentando dançando e tocando instrumentos nas ruas, podemos dizer que a cidade aceita eles “fazendo barulho”… o que é bem o contrário, os turistas é que dão dinheiro para os estudantes, pois a população em si, não aguenta mais ver eles e quer apenas o silêncio.

 

Fabiano de Llano

Social media de um grupo de comunicação, que envolve televisão, rádios e sites. É formando de Gastronomia e Alta Cozinha e já cursou faculdade de Estudos Sociais, quando chegou a ser professor de história e trabalhou no setor de comunicação de museus, onde adquiriu o gosto pelo trabalho de imprensa e fotografia, chegando a ser o responsável por algumas exposições, mas é completamente ligado a assuntos de tecnologia e entretenimento. Tem como hobbies filmes, livros, bonecos e tudo mais voltado a cultura nerd. Além, é claro, de ser apaixonado pela esposa, filha e culinária.
Se você perguntar para o Fabiano o que ele vai fazer amanhã, ele com certeza não saberá a resposta.

http://www.somostres.net

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Publicado em Devaneios | Tags: Antônia, Antônia de Llano, autocarro, Bondes, Brasil, cabelos tingidos, caminhos, Coimbra, coletivo, convicções, dança, Daniele, Daniele de Llano, decepções, estrangeiros, Fabiano, Fabiano de Llano, falando alto, Generation in movement, grupos, Gustavo Giglio, intolerância, LiteFeet, metrô, morar fora, negros, New York, ônibus, país, pensamentos, pobres, pobreza, postura, preconceito, qualidade de vida, Rafael Kent, sair do Brasil, sair do país, sem camisa, Somos Três, suados, Update or Die, viagem, viajar | 2 Comentários |

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