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Arquivos da Tag: flores

Talhos, Sumol e Bolas. Os altos e baixos de se viver no exterior, mas a certeza de que tudo acaba em flores.

por Fabiano de Llano




"Pai, olha só, a mãe me ensinando a cuidar das flores".

“Pai, olha só, a mãe me ensinando a cuidar das flores”.

Boa noite pessoas, como estão? Tudo bem?
Eu sei, andei sumido com textos por aqui, infelizmente fiquei envolvido resolvendo as questões com nosso provedor e conseguimos re-estabelecer o site em definitivo. Mas nem devem ter sentido falta dos textos, afinal, a minha esposa esteve aqui mantendo tudo atualizado. Aliás, essa é uma das vantagens de ter alguém ao seu lado quando se está fora da piscina, ou melhor, do país. Sempre que um tem problemas, o outro está ao lado para levantar a bola. Só tenho a agradecer a ela.
Claro, tem a Antônia, mas é pequenina. Nós é que temos que levantá-la, sempre. E nunca nos cansaremos disto.
Enfim, aproveitando esse gancho de se ter alguém ao lado para levantar a moral, foi que me veio a ideia de escrever o texto sobre isso: altos e baixos.

É incrível quando se está fora do país a capacidade que pequenos acontecimentos têm de mudar o seu humor, até o seu dia.
Alguns dias atrás estava conversando com meu irmão via Skype e falei para ele que aqui não sentimos falta de pessoas. Claro, sentimos falta do contato familiar, mas de pessoas, do contato social, não. O que mais sentimos falta são de coisas.
É literalmente o significado de “coisas”, ou seja, coisas. Alguém consegue definir o que é uma coisa? Não, né?
Então, coisa pode ser um objeto, um local, um acontecimento, um programa de televisão, um momento cultural, um contato social, etc.
E isso é o que mais sentimos. E olha que só temos pouco mais de dois meses de vida fora do país. Se formos falar com alguém que está há anos fora, capaz de achar tudo o que estou escrevendo uma grande bobagem. Pode ser. Se achar isso, por favor, não me diga. Deixe-me viver achando que estou passando por algo especial, mesmo que ele seja agoniante. Estamos combinados? Ok, seguindo o texto.

Eu e minha esposa temos o péssimo hábito de fixar o GPS, ou melhor, fincar raízes. Não, não somos sedentários, pouco aventureiros, nem nada. O nosso hábito é de estabelecer pontos de convívio que nos relacionem com determinado local. Resumindo, sempre que mudamos de endereço (e não foram poucas as vezes que mudamos ao longo destes 12 anos de casamento), um dos nossos primeiros atos de marcação territorial é saber onde fica o mercado mais próximo. Não importa se ele é ruim, caro, desabastecido…nada disso. Precisamos apenas de um local que saibamos onde ir em caso de faltar comida.
Assim é em saber onde fica um restaurante, uma determinada loja, um parque, um cinema, um shopping, o horário de um programa de televisão…viu só, coisas.
Estando no Brasil, por já conhecermos a cidade em que morávamos, fixar o GPS era muito fácil, até porque se não tínhamos nenhuma coisa perto, tínhamos as coisas do antigo endereço, ou seja, sempre era fácil fazer algo com alguma coisa que estávamos habituados.
Já aqui, isso tem sido um pouco mais difícil.

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“Pai, o senhor quer perder tempo fixando raízes? Olha o tamanho do jardim que temos para explorar!”

Temos o nosso mercado, temos um shopping preferido, temos uma cafeteria, um restaurante, um parque, ainda não temos cinema (porque temos uma filha de 1 ano e meio e ir ao cinema com um criança dessa idade é algo impossível de ser feito) e não temos um programa de televisão preferido.
Teoricamente temos 80% das raízes fincadas, ou GPS fixado, como preferir. Podemos dizer que falta pouco para chegarmos aos 100% e comemorarmos com muito vinho verde.
O problema é que estes 20% restantes estão sendo muito difíceis de serem alcançados.
Quando você chega num país novo, tudo é novidade. A adrenalina está lá em cima. Você bate no peito como se fosse o King Kong no alto do Empire Stats. Nenhum avião vai te derrubar dele. Ao contrário, cada investida dos pilotos parece motivar mais ainda a escalada.
Mas aos poucos você vai vendo que por mais gigante e determinado que seja, as pequenas feridas começam a te deixar mais lento.
Você estica o braço para alcançar o próximo andar, mas parece que ele está mais distante. O vento que antes te refrescava, agora parece que vai te derrubar do prédio. O tamanho que antes parecia uma vantagem, agora parece ser desfavorável. Quem dera não ser um gigante, o peso para carregar seria menor.
Bom, saindo do King Kong e voltando para a vida real, aqui estamos nós, três humanos normais em busca de vínculos.

“Fabiano, e qual a relação dos vínculos com os altos e baixos?”
Por exemplo, temos uma sorveteria, aqui se chama gelateria, preferida. Fica no Largo da Portagem, bem perto de onde moramos. Os donos são todos italianos e falam 0% de português. Nós somos brasileiros e falamos 0% de italiano.
Desde o primeiro dia, a maior diversão tem sido ir na gelateria, pedir o que vamos comer e ficar esperando o que vão nos trazer. Até hoje foram poucas as coisas que vieram trocadas, com exceção de uma, que sempre vem trocada: a minha bebida.
Sempre que um dos donos nos atende, eu faço o pedido até apontando o que tem no cardápio, a dificuldade está no hora da bebida. Aqui tem uma bebida chamada Sumol, já o nosso suco natural, aqui se chama sumo, ou sumo natural. Então eu faço o pedido e digo, “para beber, um sumo natural de laranja”.
O dono, italiano, que não fala português, sorri, recolhe os cardápios e sai para providenciar os pedidos. Quando eles chegam, adivinhem qual a bebida que me serviram…sim, Sumol.
E isso se repete semanas após semanas. Já tentei mudar a forma do pedido, pode ser que eles confundam quando digo “sumo natural” com “Sumol”. Pode ser. Então já pedi “suco”, “glup glup de laranja”, “laranja apertada”, qualquer coisa, lá vem eles com Sumol.
Isso é muito divertido, sério, é uma pequena coisa que se torna grande por ser hilária. Parece coisa de seriado de comédia. Só que, lembram do King Kong e do nosso hábito de fincar raízes? Eu quero um dia ser entendido e atendido, só isso. Dai a pequena coisa, ou dificuldade, já se torna algo imenso. Já pedi água e veio Sumol!

Você deve pensar “mas vai ficar para baixo por pouca coisa?”
Sim, fico.

Outro dia, quando fomos ao Porto, entramos numa cafeteria e pedi duas meias de leite e uma bola de Berlim (traduzindo, dois cafés com leite e um sonho).
O garçom me olhou e perguntou sorrindo “mas porque só uma bola, se elas estão tão boas?”. Eu falei, “porque é muito doce, não estamos com fome e preferimos dividir”.
Ele recolheu os cardápios, se virou para o balcão da cafeteria e gritou com a atendente que estava lá do outro lado “duas meias de leite e DUAS bolas de Berlim!”.
Poucos minutos depois lá estavam elas, as DUAS bolas de Berlim na nossa mesa.
Na hora me lembrei da gelateria e agradeci por não ter vindo Sumol no lugar do café com leite.

Outro episódio, semana passada estávamos morrendo de vontade de comer carreteiro, ou arroz de carreteiro, dependendo da região do país que você está. Dai lembramos que ainda não sabemos exatamente o nome dos cortes de carnes nos açougues (casa de talho) aqui em Portugal.
Para comprar carne, vamos no mercado, olhamos as bandejas e pegamos a carne que, aparentemente, está dentro dos cortes que estávamos habituados a comprar no Brasil.
O problema é que para fazer o carreteiro precisaríamos de um pedaço de carne, não de bifes, e isso não tem nas bandejas do mercado, somente no talho ou nas casas de talho.
Então lá fomos nós (eu, minha esposa e a Antônia) numa casa de talho. Chegamos com todo o gás, cheios de confiança e…travamos na hora de pedir a carne para o atendente.
Parecia que tínhamos sido atingidos por algum raio congelante. Não saia nada de nossos lábios. E o atendente nos olhando, tentando entender o que se passava conosco. Até que minha esposa descongelou e falou “vocês vendem alcatra?”.
Eu fiquei pasmo. Não acreditei que ela tinha falado o nome de um corte brasileiro na casa de talho português. Não que isso seja errado, ao contrário, mas é como se estivéssemos quebrando um código de ética.
Para minha surpresa, o atendente respondeu “sim, temos alcatra, vazio, fraldinha, coxão mole, patinho… já morei no Brasil, sei os nomes do cortes de carnes de vocês”.
Foi como se tivéssemos sido sorteados na loteria. De uma hora para a outra o mistério dos cortes de carnes estava solucionado. Estávamos livres das bandejas de isopor dos mercados. Nunca mais passaríamos fome…ok, isso já foi exagero.
O atendente também ficou feliz, pois viu que ganhou dois clientes, enfim, todos estavam felizes.
Foi tanta a empolgação na comunicação que ele nos perguntou “vocês querem a alcatra para fazer bife ou picada?”. Com certeza não seria bife, afinal, no carreteiro a carne é em pedaços.
Empolgado e com um enorme sorriso no rosto eu respondo para ele “picada”.
Então ele, o atendente, pega aquele belo pedaço de alcatra, envolve-o com os cinco dedos da mão esquerda, sorrindo, levanta a carne, vira de costas e se dirige para o balcão do fundo.
Eu e minha esposa estávamos dando pulos de alegria, a Antônia dormindo no carrinho, até tentamos cantar algo, mas o bom senso nos proibiu tamanha vergonha. Então ficamos seguindo o atendente, com os olhos brilhando de alegria e vendo que ele iria embalar a carne. Em poucos segundos estaríamos com nosso prêmio, a alcatra…mas não. O atendente se dirigiu para uma máquina prateada. Tirou algo pesado de cima dela, deixando exposto um buraco na parte superior daquele equipamento.
Era como se uma faca atravessasse nossos corações. Não acreditávamos no que estávamos vendo. Ele estava colocando a nossa tão sonhada alcatra no moedor de carnes.
Em Portugal, carne picada é a nossa carne moída.
Não tivemos tempo de reação, ficamos parados, sofrendo, em luto, pela carne que saia em pequenos grãos da parte inferior da máquina.
Ainda sorrindo o atendente nos entregou o pacote e disse “podem voltar e pedir o que quiserem, eu sei os cortes, podem ficar tranquilos, contem comigo”, só faltou fazer corações com as mãos.
Atordoados, pegamos a carne e saímos. O carreteiro virou espaguete a bolonhesa.

Agora você entende quando falo de altos e baixos?

Pequenas ações, como ir numa gelateria, comprar carne ou tomar café, são coisas extremamente importantes quando saem conforme planejado, pois ajudam a fixar raízes. O problema é que, se essas pequenas coisas não saem de acordo por causa das diferenças culturais, a raiz não fixa e achamos o fim do mundo. Ou seja, os altos e baixos.

A nossa última alegria, por exemplo, veio depois de um momento de baixa.
Minha esposa gosta muito de plantas, sabe tudo de jardinagem. Faz mais de um mês que tenta cultivar algumas flores em nossas janelas. Sem sucesso. O sol é muito forte e tem matado sucessivamente todas as flores que plantamos. Só que, uma vingou.
Sim, uma flor está se saindo bem, assim como um raminho de salsa. Vocês não imaginam como isso nos deixa felizes.
Pode parecer coisa boba, mas o simbolismo de uma flor conseguir fixar raízes em meio a tanto sol forte, mostra que estamos no caminho certo.

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Nós vamos conseguir fixar nosso GPS. Não importam os talhos, o Sumol ou as bolas de Berlim. A nossa felicidade está nas flores…e em suas raízes.

 

Mora sim!

Mora sim!




Fabiano de Llano

Social media de um grupo de comunicação, que envolve televisão, rádios e sites. É formando de Gastronomia e Alta Cozinha e já cursou faculdade de Estudos Sociais, quando chegou a ser professor de história e trabalhou no setor de comunicação de museus, onde adquiriu o gosto pelo trabalho de imprensa e fotografia, chegando a ser o responsável por algumas exposições, mas é completamente ligado a assuntos de tecnologia e entretenimento. Tem como hobbies filmes, livros, bonecos e tudo mais voltado a cultura nerd. Além, é claro, de ser apaixonado pela esposa, filha e culinária.
Se você perguntar para o Fabiano o que ele vai fazer amanhã, ele com certeza não saberá a resposta.

http://www.somostres.net

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Publicado em Devaneios | Tags: água, Altos e baixos, Antônia, Antônia de Llano, bolas, bolas de berlim, Brasil, Coimbra, Daniele, Daniele de Llano, Empire States, euro, Fabiano, Fabiano de Llano, família, flor, flores, King Kong, país, Portugal, qualidade de vida, sair do Brasil, Somos Três, suco, sumo, sumol, supermercados, talho, talhos, viagem, vida | 17 Comentários |

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