Ontem a Antônia ganhou alguns brinquedos novos. Nada tecnológico, ao contrário, coisas bem lúdicas, que visam o desenvolvimento.
Uma mesinha para desenhos, com cartões de figuras e alfabeto, um carrinho de madeira, com peças de encaixar, um tabuleiro de doces de madeira, também com peças de encaixar e combinar, e um conjunto de bichinhos para a hora do banho.
Não gosto de ficar fazendo comparações, não é este o nosso foco, mas como esta viagem está nos sendo um maravilhoso momento de descobertas e o nosso foco com o Somos Três é a experiência, acabamos por fazer comparações entre o Brasil e onde estamos atualmente, Portugal.
O que mais nos encantou nestes brinquedos, além seus benefícios para o desenvolvimento da Antônia, foi o custo total. Custaram pouco mais de 30 euros.
E o que isso tem de comparativo em relação ao Brasil? Exatamente a questão do custo e o reflexo disso no desenvolvimento das crianças e no papel delas como futuros adultos na sociedade.
Depois que a Antônia saiu da fase do “berço e colo” e entrou na fase do “me locomovo sozinha”, a nossa preocupação passou a ser o que fazer para ela se envolver, se distrair, aprender. O problema que passamos a encontrar? O custo dos brinquedos educativos.
Se você está no Brasil, tem filho pequeno e se preocupa com o desenvolvimento dele, sabe muito bem a dor que é entrar numa loja de brinquedos, escolher algo educativo, de madeira, por exemplo, e pagar. A desculpa que nos dão é que por ser madeira, o produto é artesanal. E por ser artesanal, é caro.
Não sei onde. Algo artesanal é praticamente único mas, nas lojas, vemos caixas e caixas do mesmo brinquedo. Sabemos que saiu de uma linha de produção. Mas o custo, é estratosférico.
Nos acostumamos a ver o plástico como algo de menor qualidade e aceitamos a madeira como algo de melhor qualidade. Tem suas verdades, mas também tem suas mentiras.
Tem muito brinquedo de plástico, com elementos de última geração, que tornam o produto quase inquebrável. Enquanto tem muita madeira que se deteriora rápido e solta farpas/felpas tornando o brinquedo totalmente desaconselhável para os pequenos.
Enfim, o fato é que se tornou regra: é plástico? É barato. É madeira? Vai ser caro.
A outra regra que se passou a ter foi: é educativo? Tem que ser de madeira (tecido, vidro), logo mais caro ainda. Não é educativo? É de plástico e tem que ser super barato.
Ok, admito, não sou especialista em educação infantil e muito menos em análise de materiais utilizados na indústria de brinquedos. A minha experiência é de quem já foi criança e se preocupa com o crescimento da filha pequena que tem.
Aqui, em Portugal, ao contrário (pelo menos tem sido a nossa experiência nas lojas de brinquedos). Os educativos são os mais baratos, independentemente do material empregado na sua confecção.
Quem já não ouviu a expressão “brinquedo de gente rica” ou “por isso que o filho de quem tem dinheiro consegue se dar bem na vida”?
Calma, não vou entrar em discurso de classes. Esquece, sou totalmente contra esse tipo de idealismo.
O que estou me referindo é que, com brinquedos educativos mais caros que brinquedos comuns, invariavelmente estamos mantendo um certo afastamento de determinadas crianças daquele que é um dos princípios mais básicos: a educação.
A criança que tem acesso a brinquedos que estimulam a mente, a criatividade, a curiosidade, a lógica, etc, tem, comprovadamente, um desempenho melhor quando adulta. Brincar é nos preparar para o mundo. Brincar é a forma de dizer para a criança como o mundo funciona.
Quando estava no Brasil, eu achava normal um quebra cabeça de madeira custar quase 100 reais. Achava normal um livro de algodão, com figura de bichinhos, custar mais de 30 reais. Achava normal uma cozinha de plástico custar mais de 400 reais. Assim como achava normal uma simples boneca custar 20 reais, um disparador de bolhas custar 10 reais, celular de brinquedo custar 15 reais. Essa era a minha realidade, ou melhor, a de todos. Repararam na diferença de preço entre os brinquedos com finalidade educativa e o preço dos brinquedos que são somente para brincar?
Quando eu questionava alguma coisa em relação ao futuro de alguma criança, eu achava que educação era o que vem da família e é complementada na escola. Então também defendia o discurso simplista de “invistam na educação”, “10% do PIB para educação”, etc. Mas não, educação é um conjunto de coisas, entre elas, os brinquedos.
Aqui, como a minha esposa já comentou em outro texto (clique aqui), tudo é pensado na inclusão dos pequenos. Desde a praça de alimentação do shopping com um espaço exclusivo para as famílias, até um museu a céu aberto com construções em miniaturas para que as crianças possam explorar as diferentes culturas do mundo.
No Brasil, é proibido ter comercial de brinquedo na programação aberta das televisões. O que aconteceu com isso? As emissoras perderam os anunciantes de brinquedos e simplesmente tiraram os programas infantis do ar. Se você quer que seu filho assista a um desenho, tem que ter TV a Cabo.
Aqui os comerciais não só são permitidos, como muitas coisas nos intervalos estão com caracteres em inglês. No Brasil tudo tem que ser traduzido.
Ontem, no mesmo corredor do supermercado que compramos os brinquedos citados no início da postagem, tinha brinquedos como telescópio por 40 euros, microscópio por 15, tubos de ensaio por 10, brinquedos de química por 20, kits para montar um brinquedo com captação de luz solar por 10, energia eólica também por 10, observador de insetos por 3…ou seja, tudo com preços acessíveis para os país que querem investir nos pimpolhos.
Enfim, esse texto talvez não tenha muito sentido e seja só um aglomerado de informações soltas. O que eu sei é que com a experiência que estamos tendo aqui, podemos ver claramente a distância que separa o desenvolvimento das crianças de países mais avançados, do desenvolvimento das crianças que temos no Brasil.
Quando eu era pequeno, lá na década de 80, o lema do país era “as crianças são o futuro Brasil”. Hoje, em 2015, que estou neste futuro, o lema do país é “criança tem que ser julgada como adulto”.
Alguma coisa está errada… brincar tem que ser um barato. Em todos os sentidos.